quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Queres vir para a direção ??


Treinadores, jogadores, árbitros. Todos intervenientes no jogo, todos a retirarem, à sua maneira, o prazer de pisar os palcos, de ser elemento visível nesta nossa paixão que é o futebol. Equipamentos a rigor, bolas cheias e reluzentes, campo marcado, regado, tudo pronto para começarem o prazer.

No final, o petisco ou a sandes apetitosa aparece à frente dos atletas e staff, como que por milagre.

Por de trás de todos estes “dados adquiridos”, está a figura do dirigente. Dos poucos intervenientes que não tem autorização nem para entrar no campo (até os massagistas podem).

Nos tempos que correm, ser dirigente é quase um ato de heroísmo. As novas ofertas da vida moderna não têm comparação com o que sucedia no país no passado, onde a única coisa que havia para fazer ao domingo era ir ao futebol de manhã e à tarde. Ser dirigente desportivo nessa altura era uma honra. Normalmente ganhava-se notoriedade na terra, era-se respeitado por todos, e não havia falta de elementos. Muitos eram os casos onde direções de 20-30 elementos trabalhavam em bloco no desenvolvimento dos clubes.

Hoje, a capital e a sua oferta está a hora e meia de distância. O Algarve a um pulinho, Évora e o seu shopping a menos de 1 hora. “Perder” o fim de semana no associativismo, privando as famílias da companhia, do passeio domingueiro, ou apenas da almoçarada mais prolongada, começa a ser algo que faz desequilibrar a balança. Passar semanalmente os finais de tarde numa sede, ou num campo de futebol, ao frio e à chuva, trocando o calor do sofá, os jogos que passam na tv, por a colaboração numa associação desportiva, dá que pensar.

Existe uma carência de dirigentes por todo o lado. Perfeitamente normal. A maior parte dos dirigentes continuam a ser os da velha guarda, os que sempre estiveram ou os que foram obrigados a regressar, para não cair no marasmo. Depois existe um ou outro projeto com “gente nova”, que normalmente se “aguenta” por um ou dois mandatos. Que isto de criticar é bem mais fácil do que tomar as rédeas à coisa.

Sinais dos tempos também, aquilo que era no antigamente o reconhecimento das pessoas em relação ao dirigente, neste momento têm o efeito contrário. As redes sociais, os blogs, etc, tornam a crítica mais fácil, fazendo muitas vezes da área do dirigismo uma fogueira onde quem entra normalmente sai chamuscado.

Contudo, não é por milagre que o equipamento aparece lavado, a bola no saco, ou o cantil cheio. Não é por obra e graça do Senhor que as bilheteiras abrem e vendem bilhetes, que os bares têm bebidas frescas, ou as carrinhas estão atestadas para as deslocações. As sandes no final do jogo não se compram já com a manteiga barrada e o fiambre lá dentro. Tal como os senhores que aparecem de colete a fazer policiamento aos jogos não são figurantes ou de uma qualquer empresa de segurança privada. A música nos campos não toca sozinha e sim, os subsídios pagos a alguns atletas não caem do céu. Alguém tem de os ir “buscar” a patrocinadores, realizar eventos, etc.

Tudo isto é o Dirigente desportivo. Além de operário, é muitas vezes psicólogo, mediador de conflitos, mas também pai, filho, marido de alguém. Que, na maior parte dos casos fica em casa, quando o pai vai com os filhos dos outros numa qualquer manhã de chuva (que começa invariavelmente pelo menos 1 hora mais cedo do que para os atletas, e termina quase sempre 1 hora mais tarde), ou quando o marido não pode ir às compras com a esposa, ou visitar a mãe ao lar naquele domingo como costuma ser normal.

Preserve-se o dirigente desportivo. Apoie-se! Ou pelo menos não se castigue quando algo não corre bem. Que por vezes é, apenas, uma meia em 18 que veio rasgada, ou um bidon de água que, num dia de calor, afinal está vazio. Diga-se muitas vezes, pelo menos, Obrigado!

Obrigado por dar o seu tempo, obrigado por a sua entrega, obrigado pela sua colaboração. Obrigado por a obra que deixa, seja ela material ou apenas humana. Obrigado por dar, sem nada receber. Não se esqueça de entender que, treinador treina, jogador joga, mas nada se faz sem o dirigente dirigir. Cada qual no seu poleiro, cada um no seu espaço.
E quando o critica, opte por ajuda-lo. “Queres vir para a Direção, melhorar, ajudar?”. “Não posso, não tenho tempo…”.

Carlos Jorge Guerreiro


3 comentários:

  1. Que esta crónica seja considerada um louvor a todos os órgãos sociais do Alvorada Futebol Clube de Ervidel, pelo trabalho desenvolvido em prol do clube.

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  2. Pela sua qualidade, decidimos publicar no nosso Facebook.Obrigado.GDCA.

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  3. Exelente texto.
    Palavras sábias de quem esteve ou esta ligado a uma direção, e sabe bem a realidade dos dias que correm.
    Parabéns está fantástico...
    "Obrigado por dar, sem nada receber..."

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