Treinadores,
jogadores, árbitros. Todos intervenientes no jogo, todos a
retirarem, à sua maneira, o prazer de pisar os palcos, de ser
elemento visível nesta nossa paixão que é o futebol. Equipamentos
a rigor, bolas cheias e reluzentes, campo marcado, regado,
tudo pronto para começarem o prazer.
No final, o petisco ou a
sandes apetitosa aparece à frente dos atletas e staff, como que por
milagre.
Por de trás de todos estes
“dados adquiridos”, está a figura do dirigente. Dos poucos
intervenientes que não tem autorização nem para entrar no campo
(até os massagistas podem).
Nos tempos que correm, ser
dirigente é quase um ato de heroísmo. As novas ofertas da vida
moderna não têm comparação com o que sucedia no país no passado,
onde a única coisa que havia para fazer ao domingo era ir ao futebol
de manhã e à tarde. Ser dirigente desportivo nessa altura era uma
honra. Normalmente ganhava-se notoriedade na terra, era-se respeitado
por todos, e não havia falta de elementos. Muitos eram os casos onde
direções de 20-30 elementos trabalhavam em bloco no desenvolvimento
dos clubes.
Hoje, a capital e a sua
oferta está a hora e meia de distância. O Algarve a um pulinho,
Évora e o seu shopping a menos de 1 hora. “Perder” o fim de
semana no associativismo, privando as famílias da companhia, do
passeio domingueiro, ou apenas da almoçarada mais prolongada, começa
a ser algo que faz desequilibrar a balança. Passar semanalmente os
finais de tarde numa sede, ou num campo de futebol, ao frio e à
chuva, trocando o calor do sofá, os jogos que passam na tv, por a
colaboração numa associação desportiva, dá que pensar.
Existe uma carência de
dirigentes por todo o lado. Perfeitamente normal. A maior parte dos
dirigentes continuam a ser os da velha guarda, os que sempre
estiveram ou os que foram obrigados a regressar, para não cair no
marasmo. Depois existe um ou outro projeto com “gente nova”, que
normalmente se “aguenta” por um ou dois mandatos. Que isto de
criticar é bem mais fácil do que tomar as rédeas à coisa.
Sinais dos tempos também,
aquilo que era no antigamente o reconhecimento das pessoas em relação
ao dirigente, neste momento têm o efeito contrário. As redes
sociais, os blogs, etc, tornam a crítica mais fácil, fazendo muitas
vezes da área do dirigismo uma fogueira onde quem entra normalmente
sai chamuscado.
Contudo, não é por milagre
que o equipamento aparece lavado, a bola no saco, ou o cantil cheio.
Não é por obra e graça do Senhor que as bilheteiras abrem e vendem
bilhetes, que os bares têm bebidas frescas, ou as carrinhas estão
atestadas para as deslocações. As sandes no final do jogo não se
compram já com a manteiga barrada e o fiambre lá dentro. Tal como
os senhores que aparecem de colete a fazer policiamento aos jogos não
são figurantes ou de uma qualquer empresa de segurança privada. A
música nos campos não toca sozinha e sim, os subsídios pagos a
alguns atletas não caem do céu. Alguém tem de os ir “buscar” a
patrocinadores, realizar eventos, etc.
Tudo isto é o Dirigente
desportivo. Além de operário, é muitas vezes psicólogo, mediador
de conflitos, mas também pai, filho, marido de alguém. Que, na
maior parte dos casos fica em casa, quando o pai vai com os filhos
dos outros numa qualquer manhã de chuva (que começa invariavelmente
pelo menos 1 hora mais cedo do que para os atletas, e termina quase
sempre 1 hora mais tarde), ou quando o marido não pode ir às
compras com a esposa, ou visitar a mãe ao lar naquele domingo como
costuma ser normal.
Preserve-se o dirigente
desportivo. Apoie-se! Ou pelo menos não se castigue quando algo não
corre bem. Que por vezes é, apenas, uma meia em 18 que veio rasgada,
ou um bidon de água que, num dia de calor, afinal está vazio.
Diga-se muitas vezes, pelo menos, Obrigado!
Obrigado por dar o seu
tempo, obrigado por a sua entrega, obrigado pela sua colaboração.
Obrigado por a obra que deixa, seja ela material ou apenas humana.
Obrigado por dar, sem nada receber. Não se esqueça de entender que,
treinador treina, jogador joga, mas nada se faz sem o dirigente
dirigir. Cada qual no seu poleiro, cada um no seu espaço.
E quando o critica, opte por
ajuda-lo. “Queres vir para a Direção, melhorar, ajudar?”. “Não
posso, não tenho tempo…”.
Carlos Jorge Guerreiro
Que esta crónica seja considerada um louvor a todos os órgãos sociais do Alvorada Futebol Clube de Ervidel, pelo trabalho desenvolvido em prol do clube.
ResponderEliminarPela sua qualidade, decidimos publicar no nosso Facebook.Obrigado.GDCA.
ResponderEliminarExelente texto.
ResponderEliminarPalavras sábias de quem esteve ou esta ligado a uma direção, e sabe bem a realidade dos dias que correm.
Parabéns está fantástico...
"Obrigado por dar, sem nada receber..."