quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Palavrão ou insulto ?

O tema que vos trago hoje resulta de vários comentários sobre a alegada permissividade das equipas de arbitragem quanto a “palavrões” que jogadores e técnicos dizem durante os jogos.

De um modo geral, parece que há muitas pessoas a ficarem surpreendidas pelo facto do árbitro – figura que representa a autoridade máxima em campo – permitir que, em noventa minutos de jogo, sejam proferidos tantos impropérios, sem que aparentemente isso tenha consequências disciplinares.

Percebo a dúvida e gostava de a (tentar) explicar/desmistificar.

Há uma diferença enorme entre um desabafo momentâneo e um insulto direcionado. Entre uma palavra solta num momento de maior tensão e outra mal-intencionada, dirigida diretamente ao árbitro ou a um dos seus assistentes.

É preciso que se perceba que jogadores e técnicos estão sob stress constante. E, deixem-me que vos diga, o stress competitivo não é brincadeira. É algo psicologicamente pesado, difícil de gerir.

Na prática, estamos a falar de atletas que dão tudo em campo. Atletas que têm objetivos imediatos (pessoais e coletivos), que estão com a adrenalina em alta, que vão ganhando em fadiga e exaustão o que perdem em lucidez e oxigénio. Jogadores que passam o jogo todo a correr, a atacar e defender, a saltar à bola, a ir ao choque e a trabalhar com contactos físicos em permanência. Jogadores que sabem que um simples jogo pode definir promoções ou despromoções, renovações ou rescisões, milhões ou tostões. É muita carga para lidar.

Cabe, pois, ao árbitro a gestão sensata dessa azáfama de emoções.

Um árbitro experiente, com sensibilidade para o jogo e saber relacional, tem que balizar bem as coisas. Tem que perceber onde termina o desabafo e começa a ofensa.

É aí que traça a linha, até porque há muito palavrão que não ofende e muita palavra “dócil” que é uma autêntica facada de tão pejorativa e caluniosa. Depende.

Aceitem este conselho da experiência: sempre que alguém vocifera asneiras, não se precipitem na condenação sumária em praça pública. Procurem enquadrar a reação no contexto em que ocorreu. Procurem entender o que a motivou, a gravidade que teve e, mais importante, se houve vontade intencional em ofender ou apenas um escoar de muita pressão acumulada.

Muitos desses momentos são resolvidos com a sensatez de quem sente e percebe as diferente variáveis do jogo. As outras, bem… só têm uma solução: cartão vermelho direto e toca a tomar banho mais cedo. A pedagogia também se impõe assim.
Quem percebe da poda, saberá distinguir os limites.

Duarte Gomes

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